sexta-feira, agosto 03, 2007

LADEIRAS HISTÓRICAS DA ViLA DE MONSARAZ ESTÃO A SER ARRASADAS

As Ladeiras históricas de Monsaraz estão a ser objecto de obras que estão a arrancar todos os vestígios que ainda restavam das antigas calçadas medievais, recorrendo a maquinaria pesada do exército. A operação, promovida pela Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, e financiada com fundos públicos e comunitários, está a decorrer em três ladeiras, antigos acessos à vila histórica, anteriores à construção da actual estrada asfaltada, e como tal parte integrante de todo o conjunto monumental, classificado como monumento Nacional, e com uma Zona Especial de Protecção (DL 35443, DG 1 de 02-01-1946; 516/71 de 22 de Novembro e DG (II Série), n.º 187, de 14-08-1951; DG, n.º 274, de 22-11-1971, decreto n.º 516/71). Parte das obras estão incluídas na referida zona especial de protecção, especialmente aquelas localizadas mais próximas das portas de acesso à Vila Fortificada, e que estão prestes a ser “arranjadas” da mesma forma.

O trabalho consta do arranque puro e simples da calçada existente, e da sua base de assentamento (cerca de 40 cm) sendo depois os materiais petreos britados e cilindrados e posteriormente passados com máquina niveladora, ou seja, a recuperação de caminhos históricos está a ser feita como se se tratasse de uma vulgar estrada. Os trabalhos decorrem a nível acelerado, estando já “tratados” cerca de dois quilómetros de calçadas. O trabalho está a ser feito sem qualquer acompanhamento arqueológico, sendo portanto incalculável o que se pode ter perdido de conhecimento cientifico sobre estes antigos acessos, alguns dos quais poderiam ter sido parte integrante das chamadas canadas reais, ou mesmo acessos mais antigos, remontando às ocupações pré-históricas do então castro fortificado.
Para além do arranque da calçada, os antigos caminhos estão a ser alargados, sendo para isso limpa toda a vegetação, com desbaste de azinheiras e eliminação dos rochedos naturais que ladeavam os caminhos, onde durante séculos os caminhantes se sentavam para descansar das agruras da subida. De salientar ainda que as barreiras, estabilizadas pelo tempo e pela vegetação natural, estão a ser formadas em talude, como se de um vulgar caminho se tratasse.

Parte dos muros de pedra de xisto, que suportavam as centenárias ladeiras, construídos com uma técnica que os preservou durante os anos, estão pura e simplesmente a ser demolidos e as suas pedras a serem integradas nos enrocamentos das futuras “estradas”.

Em simultâneo, como se de um ataque concertado à imagem da encosta Norte de Monsaraz se tratasse, um privado arrasou parte de outra ladeira histórica, a “Ladeira dos Bandalhos”, para abrir um acesso automóvel a um terreno na encosta, onde a câmara aprovou um duvidoso projecto de Arquitectura, envolvido em polémica por suspeita de actos ilegais, que já levaram de resto o caso aos tribunais. O referido acesso está a ser executado em plena reserva ecológica, parte sobre a referida ladeira, e parte num local onde nunca antes houve qualquer caminho. A obra em causa, cuja polémica remete para o anterior executivo camarário e deu origem à demissão de um vereador do PSD, voltou recentemente a dar nova polémica com outro vereador da mesma formação politica que se disse “enganado” ao reparar que aprovou o projecto anteriormente reprovado, por alegadamente lhe terem sido subtraídas informações. A obra, supostamente uma recuperação de uma ruína, para além da construção do caminho atrás referido, está neste momento em fase de movimentações de terras anormalmente grandes para uma pequena recuperação, que passam por alterações profundas dos perfis do terreno para posterior construção de duas plataformas artificiais, uma para a construção em causa e outra para implantação de uma zona de circulação de veículos, que antes nunca tinham tido acesso àquele nível da encosta. Tudo isto, em plena reserva ecológica, onde nem o coberto vegetal pode ser mexido.
Todas estas obras vão ter um impacto visual profundo e negativo na encosta de Monsaraz, contribuindo assim para a degradação da imagem e da paisagem do promontório onde se implanta a monumental vila Alentejana.

As ladeiras em causa, foram recentemente integradas numa rede de percursos denominados “Percursos do Imaginário”, por sua vez integrados numa “Rede Europeia de Turismo de Aldeia”, e foram limpos e sinalizados com financiamentos comunitários. Os trabalhos de limpeza e divulgação dos percursos foram financiados pelo programa “LEADER” e resulta de uma parceria alargada que integra a ADIM (Associação de Defesa dos Interesses de Monsaraz) um grupo de empresários de Monsaraz e Telheiro, e a própria autarquia Reguenguense. Todo este trabalho desapareceu assim debaixo da maquinaria que, diariamente e sem oposição de ninguém, continua a demolir e a triturar restos de história e de património, parte dele classificado. Os percursos eram regularmente utilizados por praticantes de pedestrianismo, que de todo o pais e mesmo do estrangeiro vinham participar em passeios, livres ou organizados, pelos locais sinalizados, conforme se documenta nas fotos que se anexam.

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