segunda-feira, janeiro 28, 2008

Carta Aberta ao Exmº Sr. Primeiro Ministro por ocasião da sua Visita a Monsaraz

Exmº Sr. Primeiro Ministro José Sócrates

Dirigimo-nos a Vossa Excelência por ocasião da sua visita a Monsaraz, para lhe pedir que conceda algum do seu tempo e atenção às preocupações que gostaríamos de lhe transmitir, sobre a forma como está a ser orientado o futuro desta nossa região.

Somos uma pequena associação de defesa de Monsaraz, fundada há quase 20 anos. Poderá o senhor Primeiro Ministro pensar que não temos na região qualquer poder e assim é de facto. Tentamos apenas exercer a nossa cidadania, valor supremo para a qualidade de qualquer democracia avançada. Por isso tomamos a liberdade de lhe pedir que nos ouça.

Estamos preocupados com a forma como se está a preparar o futuro da nossa terra. Os projectos que se anunciam para a região, assentam em boa parte a sua mais valia na qualidade do ambiente, da paisagem e do património. Ora Monsaraz, vila classificada na sua totalidade como Monumento Nacional, continua a não ter um plano de salvaguarda, um plano que determine e clarifique o tipo de intervenções, sejam públicas ou privadas, de modo a preservar a sua identidade e genuinidade, de forma clara, balizada e devidamente fundamentada na teoria do restauro e da conservação, como acontece em toda a Europa avançada e moderna.

O plano de que carece esta Vila monumental deveria ainda ser abrangente o possível para regular as questões que se prendem com a especulação que tem afastado os residentes da vila, e oferecido os seus espaços habitacionais a casas de fim de semana e/ou a usos diferentes dos da habitação, em numero excessivo e desproporcionado. Este desequilíbrio só foi possível por ausência deste documento de planeamento fundamental, que também teria sido importante para estabelecer regras urbanísticas e arquitectónicas bem como estabelecer critérios de desenvolvimento turístico e de promoção. Com um documento com este alcance, suportado por estudos de análise pluridisciplinar a montante, que a ADIM tem reivindicado desde há muito, teriam sido evitados erros diversos, nomeadamente os que se prendem com a recuperação das muralhas dos sistemas defensivos e a construção de um sistema de acessos casuístico e não planeado, que torna o acesso principal a Monsaraz num conjunto inestético, poluído visualmente, e com um enquadramento paisagístico completamente desadequado do nível de qualidade que o monumento exige. Ter-se-iam também evitado as destruições de solo arqueológico que recentemente foram executadas pela autarquia nos antigos acessos à Vila, e que alias motivaram a intervenção da ADIM, que interpôs uma providência cautelar contra estas obras, que considera ilegais, parte delas em área “nom aedificandi” da Zona Especial de Protecção. Resumindo, até este momento, o fenómeno turístico não tem beneficiado plenamente a população, que tem vindo a ser empurrada para fora das muralhas, e nem patrimonialmente porque a pressão imobiliária tem provocado alguns destes problemas e outros ainda, como é o caso da corrida à construção na soberba encosta onde se alcantarilha o complexo militar. De facto, recentemente, também têm sido polémicas algumas obras que, mascaradas de recuperações, e desrespeitando regras elementares e a própria Lei, usando solo protegido e abrindo feridas na paisagem, podem ser o início do invadir das encostas da vila à construção descontrolada.

Queremos ainda referir o facto de um dos poucos projectos sustentáveis e importantes para o verdadeiro desenvolvimento desta terra, o tão falado Museu Regional de Arqueologia, um projecto verdadeiramente original e criador de mais valias efectiva para a região, não estar ainda construído. Antes, está completamente parado, 10 anos depois de ter sido prometido. De facto, a quantidade infinita de estudos, investigações, levantamentos e escavações arqueológicas efectuadas, produziram uma riqueza científica ímpar e notável que importa proteger e divulgar. Não se conhece outra experiência semelhante, a nível planetário, que tenha passado pela análise sistemática e pluridisciplinar de milhares de km2. O manancial de estudos que esta situação impar proporcionou, não foi ainda rentabilizado em termos turísticos. Com esse conhecimento singular, poderiam fazer-se vários museus virados para o futuro. Peças exemplares, únicas, que projectassem e divulgassem a região no mundo e que trouxessem os tão esperados visitantes.

Senhor Primeiro Ministro, o facto de sermos pequenos e sem poder económico e político na região, não nos retira, em nossa opinião, o direito de tentar fazer ouvir a nossa voz e alertar para a destruição concertada do nosso património e da nossa paisagem, da nossa cultura e das nossas tradições, em nome de um progresso e de um desenvolvimento que só aproveita a alguns, curiosamente os que já têm muito poder económico e político. A História normalmente julga e mostra de que lado está a razão. Mas é sempre tarde de mais na maior parte dos casos, e como o Senhor Primeiro Ministro bem sabe, nem sempre as maiorias têm razão e muitas vezes são as minorias que fazem avançar e dar os grandes saltos nas civilizações.

Infelizmente no nosso país são minorias os que defendem a Cultura, o Património e a Paisagem. Nós fazemos parte delas, mas não nos movem interesses económicos, pessoais nem de grandes grupos de poder. Somos, como dissemos ao princípio, pequenos e sem poder mas gostaríamos de pedir a Vossa Excelência que nos permita ser daqui e continuar a ser daqui, deste sítio, desta terra à qual estamos ligados. Que nos permita desenvolvê-la harmoniosamente, para todos, e não apenas para os novos senhores da terra loteada e urbanizada à custa da destruição da nossa paisagem, da nossa Reserva Agrícola e da nossa Reserva Ecológica.

Como uma vez disse o Embaixador José Cutileiro que tão bem compreendeu e estudou esta terra, “SER CULTO É SER DE UM SÍTIO” no sentido de que é a identidade da nossa terra e das nossas raízes que nos dão a força e a cultura para prosseguir de cabeça erguida e construir um futuro com Memória, ideia que muito bem enfatizou o Senhor Presidente da República no seu recente Roteiro para o Património e com a qual não podemos estar mais de acordo

Senhor Primeiro Ministro, pedimos-lhe que não permita que transformem a nossa MEMÓRIA num grande resort de PIN’S e golfes, de turismo igual a todos os outros turismos por esse mundo fora, em perfeito contra ciclo com o que de melhor e mais avançado se faz neste domínio do desenvolvimento local e do turismo de qualidade, em países verdadeiramente desenvolvidos e que Vossa Excelência tanto aprecia como é o caso dos países nórdicos.

Pedimos-lhe ainda que nos leia e que ouça este nosso grito de alerta e que não tenha medo do que dizem os pequenos sem poder nem influência porque só queremos ajudar a construir um futuro melhor para a nossa terra, justo e equilibrado, para todos.

Monsaraz, 25 de Janeiro de 2008

A Direcção da ADIM
(Associação de Defesa dos Interesses de Monsaraz)

quinta-feira, janeiro 03, 2008

MURALHAS A MARTELO

Para quem pensa que a questão das obras sem projecto em zona interdita à construção, recorrendo a métodos pouco adequados a quem intervem em zonas patrimoniais, como não recorrer a estudos arqueológicos, é uma pratica apenas de agora, exclusiva deste caso das obras nas ladeiras e parques de estacionamento de Monsaraz, está enganado.
A polémica estalou em 1993, quando das obras dos parques de estacionamento que decorreram nos revelins e no sistema defensivo avançado da Vila Classificada. Também dessa vez o Município de Reguengos desrespeitou várias regras elementares relativamente às técnicas e métodos de investigação, de projecto e de obra. No Município de Reguengos parece ser costume estar sempre acima da Lei, sobretudo quando se trata de património classificado.

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